"A
Era da Futilidade: A Desvalorização do Conhecimento na Sociedade
Contemporânea"
A
valorização das futilidades por grande parte das massas da humanidade é um
fenômeno que revela profundas transformações culturais e sociais na era
contemporânea. Numa sociedade marcada pela rápida circulação de informações e
pela prevalência dos meios de comunicação digitais, o valor atribuído ao verdadeiro
conhecimento parece estar em declínio, enquanto conteúdos triviais e
superficiais ganham uma visibilidade e importância desproporcionais. Este
fenômeno não é apenas um reflexo do comportamento individual, mas resulta de
estruturas sociais e econômicas que moldam as preferências e os valores
coletivos.
Historicamente,
o conhecimento era considerado uma virtude a ser cultivada, associado ao
progresso intelectual e ao desenvolvimento humano. Os filósofos gregos antigos,
por exemplo, viam na procura pela sabedoria uma das mais nobres atividades
humanas. No entanto, o que observamos hoje é uma inversão dessa hierarquia de
valores. O conhecimento, que exige esforço, disciplina e uma certa dose de
humildade intelectual, é frequentemente desprezado em favor de entretenimento
rápido e de gratificações imediatas.
A
ascensão das redes sociais e a dinâmica de funcionamento dessas plataformas
desempenham um papel crucial nessa mudança. A lógica algorítmica, que prioriza
o empenho e a retenção do usuário, favorece conteúdos que apelam para o
emocional, o efêmero e o superficial. A informação que circula nessas
plataformas é muitas vezes desprovida de profundidade, mas é precisamente essa
superficialidade que a torna atraente para as massas. Quanto menos denso e mais
fácil de consumir é o conteúdo, maior é a sua probabilidade de se tornar viral.
Além
disso, a cultura da celebridade e a obsessão com a imagem e o status social
contribuem para a valorização do fútil. Figuras públicas e influenciadores,
muitas vezes sem qualquer qualificação intelectual ou contributo significativo
para o avanço do conhecimento, são idolatrados simplesmente pela sua capacidade
de entreter ou de exibir um estilo de vida idealizado. O consumo de conteúdos
relacionados a estas figuras, que frequentemente giram em torno de escândalos,
ostentação e superficialidades, é sintomático de uma sociedade que privilegia a
aparência sobre a substância.
Este
fenômeno tem implicações profundas para o tecido social e cultural. A
desvalorização do conhecimento em favor das futilidades enfraquece a capacidade
crítica da sociedade, limitando o espaço para debates sérios e reflexões
profundas sobre questões importantes. Quando o conhecimento é desprezado, o
progresso científico, a inovação cultural e o desenvolvimento social ficam
comprometidos. A sociedade torna-se mais vulnerável à manipulação, ao populismo
e à desinformação, pois falta a base crítica necessária para questionar e
desafiar narrativas simplistas ou enganosas.
Entretanto,
não se pode ignorar que essa valorização do fútil está intimamente ligada a
necessidades humanas fundamentais, como a procura por identidade, pertencimento
e validação. Num mundo cada vez mais
complexo e fragmentado, o consumo de conteúdos superficiais pode oferecer uma
fuga temporária das ansiedades e incertezas da vida moderna. A
superficialidade, então, serve como uma espécie de alívio imediato num contexto
de sobrecarga informacional e de crise de sentido.
É
necessário, portanto, um esforço coletivo para reequilibrar a balança entre o
fútil e o substancial. Isso envolve tanto a educação crítica das massas quanto
a responsabilidade das elites intelectuais e culturais na promoção de valores
que privilegiam o conhecimento e o pensamento profundo. Só assim será possível
construir uma sociedade onde o verdadeiro conhecimento seja não apenas
reconhecido, mas valorizado e colocado no centro do desenvolvimento humano.
A
tarefa é árdua, mas fundamental para garantir que o conhecimento, na sua forma
mais pura e transformadora, não seja relegado ao esquecimento, ofuscado pelo
brilho passageiro das futilidades que hoje dominam o cenário cultural.
A.O
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